Profundezas



Caminhando em direção ao mar, o peixe entra nas águas.

Nos esconderijos dos corais....
Nos túmulos dos escravos que se afogavam, dentre as grandes embarcações dos países ocidentais...
O navio afunda e rodopia, volta à superfície.
Numa dança 'esquizofrênica' como quem se perde na narrativa do mar...
Vejo barco com velas derretidas... e a proa acenando a partida...
Vejo a noiva que se despede e o cavalo marinho esperando o último parto
Vejo o homem e sua amante no último gozo.
O marinheiro que se perde na maré nebulosa...
O náufrago afoga. Sai à procura das partes vultuosas...
Vejo um banquete de águas vivas e objetos deteriorados pelo lodo e sal.
As fotos amareladas dos álbuns desbotados.
Rasgam nas bocas ferozes das feras e peixes.
Vejo a defunta que se banha entre as rochas,
com o véu rastejando como quem mendiga carícias ...
Seres imaginários ficam perdidos no limo.
Nas profundezas descobre-se o submerso, o oculto, o que morreu mas está vivo?
Vejo uma moça atrás do espelho que partiu sem deixar moldura.
Profundas águas...
profundas águas de onde vem o sussurro dos mortos e os sonhos dos vivos...
Banha-nos com seu lume azul, verde, e sal.

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